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26.2.17

ÉTICA 004.4 LEITURAS




AULA 004
25 DE FEVEREIRO DE 2017
ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL




SUMÁRIO

ÉTICA NA EMPRESA COMO ORGANIZAÇÃO
OBSTÁCULOS DAS EMPRESAS
ÉTICA E CONSUMO
ONGS E STAKEHOLDERS
EMPRESAS E CÓDIGOS DE ÉTICA
MORAL BRASILEIRA E EMPRESARIAL







- A organização é um círculo de pessoas que, estando interessadas na defesa de uma situação de domínio, em virtude de participarem nos benefícios dela resultantes, repartem entre si o exercício dos poderes de mando e de coerção que possibilitam a manutenção daquele domínio.

- Esse sistema de relações de cooperação se coordena para atingir suas finalidades. As organizações que visam o lucro são as empresas. As que não visam podem ser chamadas genericamente de associações

- Para que esse grupo humano se constitua em uma empresa é necessária uma especial estrutura. A estrutura é o elemento do conceito de organização que confere a esta um propósito racional.

- A estrutura consiste no modo como se relacionam entre si e com o meio social os vários elementos que integram a organização. Este relacionamento implica uma divisão de tarefas.

- As características básicas da organização denominada burocrática são cinco:
a) a divisão do trabalho entre os elementos da organização segundo o princípio da especialização, por via da atribuição de competências diferenciadas
b) a hierarquia, representada graficamente por uma pirâmide
c) a regulamentação abstrata e formal das operações
d) a impessoalidade do relacionamento interorgânico
e) a seleção do pessoal de acordo com critérios de capacidade técnica e a sua progressão profissional segundo o mérito e a antiguidade. (Weber)

- Esse modelo ainda persiste como padrão na administração pública. Em relação à esfera privada, constata-se uma multiplicidade de estruturas organizativas. É que a segmentação decorre da especialização.

- Outra característica da sociedade contemporânea que força a proliferação de exteriorizações da iniciativa privada é o fracionamento da população em inúmeros grupos de interesses diversificados e preocupações desencontradas.

- A instituição que pode ser considerada vencedora no século XXI é a empresa. Enquanto o Estado se encontra às voltas com a perda da soberania, conceito cada vez mais relativizado, a empresa integra um sistema competente. Se a política se envolve na interminável discussão entre o Estado mínimo e Estado intervencionista, o caminho da empresa é o da eficiência.

- O Estado contemporâneo não consegue parar de guerrear, interna e externamente. Ao passo que a empresa se recicla e sobrevive.

- O Estado não apenas intervém na economia. Quanta vez - e com tanto insucesso-pretende concorrer, competir com a iniciativa privada.

- A verdade é que a Igreja perde fiéis. Cresce a pregação agnóstica. Nos primeiros anos do século XXI surgiram várias obras bastante comentadas pelos resenhistas, numa escancarada pregação anti-religiosa.

- Citem-se, aleatoriamente, os livros Deus, um delírio, de Richard Dawkins, Tratado de ateologia, de Michel Onfray, Quebrando o encanto, de Daniel Dennet, e Deus não é grande, de Christopher Hitchens.

- A menção tem por objetivo tão-somente observar que, se o Estado é questionado, a Igreja é atacada, o próprio Deus se vê negado em tantos livros e discussões, a empresa surge como instituição confiável.

- No campeonato dos rankings de credibilidade, tão a gosto dos pesquisadores do marketing desta era, a empresa vence até mesmo a mais tradicional dentre as instituições: a família.

- Se a família se transmuta, o mundo empresarial consegue subsistir na rede relacional cada vez mais complexa do planeta globalizado.

- Um dos motivos do fortalecimento da idéia de empresa é justamente encarar as questões éticas à luz da seriedade. Ética, para a empresa contemporânea, significa tanto quanto lucro.


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- Talvez o principal óbice posto ao desenvolvimento empresarial seja o governo. O Estado sufoca a atividade empresarial com excesso de burocracia e tributação.

- Essa péssima colocação resulta de falta de estímulo à atividade, onerada com a mais elevada carga tributária do mundo. Também reflete a ausência de uma educação qualificada para as atividades produtivas. O Brasil continua o país dos bacharéis. Mesmo que não haja mais espaço profissional.

- O bacharelismo anacrônico e o dogmatismo positivista explicam o burocratismo, atrofia do conceito de burocracia weberiana. Um exemplo é a situação do Brasil no ranking do Banco Mundial, elaborado para avaliar o grau de facilidade na realização dos negócios.

- Outro desses obstáculos é a revolução tecnológica. A obsolescência é um fator de desgaste para a atividade econômica. As necessidades humanas são crescentes e mutantes. É próprio da condição humana o estado de angústia e de insatisfação. Obter as delícias do consumo faz parte da fuga terrena à única e derradeira questão: a finitude da vida.

- O filósofo da estrada: Robert Maynard Pirsig. Não é muito conhecido do grande público, mas o livro que escreveu na década de 70 do século passado - e recusado por 121 editores - tornou-se a bíblia dos easy riders.

- Chama-se Zen e a arte da manutenção de motocicletas, que já vendeu milhões de exemplares. O livro é um ensaio filosófico sobre razão e sensibilidade, a partir de um relato aparentemente prosaico: a viagem que o autor faz na sua motocicleta, levando à garupa o filho de 12 anos, um pouco relutante, e os problemas que o funcionamento da moto oferece aos viajantes.

- Pirsig é um crítico das instituições, desconfia do saber acadêmico, por ele considerado superficial e pouco generoso, e a idéia-base de seu pensamento é qualidade.

- Pirsig salienta que nossa cultura é organizada de modo a fornecer instruções apenas de maneira clássica, ou seja, ela ensina como segurar a faca enquanto se amola, ou como utilizar uma máquina de costura, ou como misturar a cola de madeira e aplicá-la, pressupondo que, uma vez utilizados esses métodos subliminares, o resultado será necessariamente bom. A capacidade de perceber diretamente o que parece bom não é levada em conta.

- Em conseqüência disso, ocorre um fenõmeno bem típico da tecnologia moderna, uma monotonia geral da aparência, tão deprimente que precisa ser coberta com o verniz da sofisticação para ser aceita. E isso só piora as coisas aos olhos de quem é sensível à qualidade romãntica. Aliás, isso não é apenas desgraçadamente monótono, mas também falso.

- Essas duas expressões resumem com bastante exatidão a moderna tecnologia americana: carros sofisticados, motores de popa sofisticados, máquinas de escrever sofisticadas, roupas sofisticadas, geladeiras sofisticadas, cheias de comida sofisticada, nas cozinhas de casas sofisticadas.

- Brinquedos de plástico sofisticados para crianças sofisticadas, que nos natais e nos aniversários estão sempre na moda, assim como seus pais. A gente mesmo tem que ser profundamente sofisticado para não se encher disso tudo de vez em quando. É a sofisticação que nos satura: essa feiúra tecnológica coberta por uma calda de falsificação romântica, na tentativa de se converter em beleza e produzir lucro para pessoas que, embora sejam sofisticadas, não sabem por onde começar, porque ninguém jamais lhes disse que existe neste mundo uma coisa chamada qualidade, que é genuína, não sofisticada.

- A empresa moderna procura se antecipar aos desejos e, se possível, criá-los. Para disseminar essa cultura do consumo - e do consumo sofisticado, no padrão norte-americano - aceleram-se as tecnologias de comunicação e informação.

- As empresas foram as primeiras a vivenciar a nova realidade. Tiveram de se acostumar a uma nova era. De descobertas cada vez mais rápidas e de incertezas.

- Convergiram as tecnologias de telecomunicaçôes e informação e aquelas relações muito singelas entre patrão-empregado, patrão-fornecedor, patrão-cliente, foram substituídas por uma rede de inter-relaçôes sem precedentes.

- Se a tecnologia dispensa a mão-de-obra, esta se torna mais especializada. Reivindica mais. O ordenamento jurídico enfrenta o paradoxo de preservar os direitos trabalhistas, com estímulo à informalidade e ao desaparecimento dos empregos, ou de flexibilizar e assistir ao retrocesso daquilo que o operariado erigiu em direitos sociais inalienáveis.


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- Ao se sofisticar o mercado, sofistica-se também o consumidor. Este passa a exigir da empresa padrões cada vez mais elaborados.

- Ainda que o produto mereça uma divulgação envolvida em observância dos parâmetros éticos, há sempre a possibilidade de inversão do discurso.

- A empresa contemporânea ou assume a ética - denominada responsabilidade social-ou talvez venha a colher fracassos que podem levá-la ao desaparecimento

- O Código Civil Brasileiro de 2002 reconheceu a empresa, mas silenciou sobre a sua função social.

- Mas o que vem a ser a responsabilidade social da empresa? É o plus que a empresa pode oferecer à comunidade, além do legítimo interesse de exercer uma atividade lucrativa

- O estado de necessidade em que se encontra o mundo exige mais de todos. A empresa tem compromissos com o porvir e, se fechar os olhos para ele, poderá colher insucessos que tolham o seu futuro.


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- Não é só a confiança no processo político e no governo que desapareceu em alguns países. A credibilidade nas empresas também se viu reduzida a patamares críticos.

- As ONGs - Organizações Não Governamentais - hoje encarnam com propriedade maior os interesses da comunidade, cotejadas com as instituições tradicionais. E seu prestígio sobe a cada dia.

- Tudo isso faz com que surjam em cena, e com preponderância, os stakeholders das empresas. São as partes interessadas, aqueles que têm real empenho em que a empresa tenha um percurso exitoso e não se resumem aos consumidores.

- São os acionistas, os empregados, os clientes, os parceiros, os fornecedores, a comunidade, os governos, os órgãos reguladores e, com intensidade cada vez maior, os grupos com preocupações específicas, como os ambientalistas. O principal é que esses personagens têm sido ouvidos e atendidos em suas expectativas.

- Aí é que entra a ética da empresa. Os consumidores hoje são mais bem informados e serão fiéis a marcas e organizações que lhes dêem razões para confiar. A impressão que as pessoas têm da empresa está vinculada ao conceito de responsabilidade social.

- O Brasil não é diferente, pois a sociedade de mercado hoje é integrada com simultâneo e imediato repasse de informações. Por isso é que o tema responsabilidade social já motivou tantas companhias e instituições, notadamente as financeiras. Não há banco sem uma participação em projeto social.

- Cumpre a cada empresa-qualquer que seja o seu tamanho e ramo de atuação - detectar os temas emergentes e motivadores da preocupação comunitária, com vistas a adequarem suas políticas de responsabilidade social às expectativas dos grupos parceiros.

- Dentre esses temas avulta o meio ambiente, a saúde e o bem-estar de todos, mas, principalmente, dos empregados e dos moradores nas imediações da empresa, a violência e a segurança, a diversidade e os direitos humanos, dentre muitos outros.

- As empresas, por conhecerem o mercado, são hábeis ao descobrir o anseio por ética. Sentem o clamor da população desiludida com o governo, desconfiada de toda atuação pública, a exigir compostura e retidão de conduta.

- Se conseguem preencher esse vácuo moral com atuação reconhecida pelos parceiros, agregarão ao valor intrínseco daquilo que produzem - bens ou serviços - um capital efetivo e intangível.

- Ética deve ser preocupação que permeie todas as atividades. Assim como a disciplina Ética deveria ser transversal em todos os cursos e em todos os graus.

- Inegável que existe um fenômeno constatável por qualquer bom observador, que é o da intensificação das responsabilidades.Já não satisfaz a população saber que uma empresa produz um bom produto ou presta um bom serviço.

- Uma das funções dos preocupados com a falta de ética na sociedade contemporânea é formar profissionais providos de consciência moral e aptos a um desempenho sempre ético, seja qual for a função a ser exercida.


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- Assim como se discute a necessidade e a conveniência de um Código de Ética para outros estamentos e profissões, questiona-se a oportunidade de elaboração de um rol de deveres para as empresas.

- Elencar condutas antiéticas envolve um risco: tudo aquilo que não estiver exatamente tipificado escapa ao rótulo e passa a ser eticamente permitido.

- Por esse motivo é que muitas empresas deixam de adotar a estratégia da codificação moral. Simplesmente adotam a regra dourada aja com os outros como você gostaria que agissem com você.

- A tendência é a generalização dos Códigos de Ética Empresariais. Para as empresas que preferem a adoção de um Código de Ética, a crença é a de que tal opção propicia "que todos dentro e fora da organização conheçam o comprometimento da alta gerência com a sua definição de padrão de comportamento ético e, mais importante, que todos saibam que os dirigentes esperam que os funcionários ajam de acordo com esse padrão.

- Qual seria o conteúdo de um código de ética empresarial? Depende da empresa, depende do negócio, depende da orientação de seus formuladores e da clientela a que se destina.

- Também se faz essencial a possibilidade de implementação, de atualização e de revisão dos comandos do código de ética, para que sua operacionalidade não esbarre na obsolescência ou na dinâmica das rápidas transformações por que passa a sociedade.

- A comunicação é a chave do sucesso de um código de ética. Todos precisam saber que a empresa leva a sério a questão de sua conduta institucional-e a de seus membros, servidores e clientes, além de toda a cadeia com a qual se relaciona em qualquer nível.

- Adotar um código de ética é uma parcela do processo de se transformar o negócio em uma empresa cidadã, assim considerada aquela que reconhece a sua responsabilidade social e não se recusa a participar, ativamente, da vida comunitária.

- Ocorre que hoje já se considera profissionalismo encetar esse trajeto simultâneo e paralelo da trilha ética, sem descuidar da eficiência técnica e da consecução maximizada do lucro.

- O cético dirá que a preocupação ética é um modismo e que, no fundo, numa economia em que os tubarões se alimentam dos peixes menores, sobreviver já é milagre.

- Os otimistas concluirão que a empresa ética tem condições de converter o seu investimento moral em lucro real. Para que a tese otimista prevaleça, haverá necessidade de uma conversão da consciência dos detentores do capital

- O consenso possível é o de que uma empresa é uma instituição que precisa se portar com um mínimo de responsabilidade moral, mais conhecida como responsabilidade social.


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- É recorrente a afirmação de que o brasileiro tem uma dupla moral: aquela do discurso e aquela da práxis. O brasileiro seria aquele sempre interessado em levar vantagem, pronto a atingir os seus objetivos sem pruridos morais que o inibissem.

- A moral do oportunismo conviveria com a moral da integridade. Esta considera os oportunistas imorais. Aquela considera os íntegros ingênuos. Mas a tendência manifesta seria o predomínio da primeira. Em todas as áreas e, portanto, inclusive na vida empresarial.

- A verdade é que a moral da integridade é o discurso oficial presente em todas as oportunidades e exibido como atributo do caráter de todos os atores. Enquanto isso, a moral do oportunismo é o discurso oficioso a permear a sociedade por inteiro.

- Um certo mal-estar moral é muito comum entre os brasileiros, misto de confusão ou de dissimulação hipócrita. Aliás, tornou-se esporte nacional tecer reclamações e alardear indignação - autêntica ou fingida? - com a situação de imoralidade que reina no País.

- Segundo a moral do oportunismo, tudo se encontra no melhor dos mundos-ingênuos, incautos ou poetas são aqueles que praticam as orientações edificantes ensinadas na escola ou na igreja.

- Ninguém costuma assumir desfaçatez. Multiplicam-se as justificações, todos se auto legitimam, são lenientes e auto-indulgentes, embora rigorosos no julgamento do próximo.

- No Brasil um velho traço cultural que pode iluminar esta discussão toda. Trata-se do formalismo, uma clara dissociação entre o discurso e a prática; o enunciado e o vivido; o país legal e o país real; os códigos formalizados de conduta e os expedientes espertos do dia-a-dia; as declarações de boas intenções e o cinismo dos arranjos de conveniência.

- A vida empresarial não é imune a tal incidência. Há quem legitime o caixa dois, a sonegação, a contratação sem registro, a compra ou a venda sem escrituração e sem nota fiscal, tudo sob o argumento de que a carga tributária é elevada e a empresa precisa sobreviver.

- Prefere-se subornar a sofrer fiscalização. O capítulo das licitações é uma página lamentável quando se toma conhecimento do que ocorre. O desvio de dinheiro para depósitos no estrangeiro, a pretexto de assegurar o futuro da família, não é prática insólita, mas recorrente.

- Até mesmo o direito se presta a acobertar fraudes. Quantos profissionais não atuam preventivamente, na busca das chamadas brechas legais?

- Existem até mesmo teses que sustentam ser ética a atitude de quem orienta o fraudador e o libera de investigação, de processo administrativo e judicial. Se necessário, defende-o em juízo, em nome do sacrossanto direito de defesa e da presunção de inocência. A elasticidade de consciência é um fenômeno muito freqüente na sociedade brasileira.

- O fato é que a falta de ética não surpreende ninguém. Jogo de faz-de-conta e cumplicidades. Há convivência entre a retórica das fórmulas edificantes do homem de bem e a complacência em relação aos jeitinhos, favoritismos, subornos, quebra-galhos, pistolões, tramóias, infidelidades, embustes, malandragens, como se esses arranjos todos não passassem de dribles indispensáveis para sobreviver no mundo rela, para todo o sempre definido como selva impiedosa.

- É o quadro muito nítido da dupla moral brasileira.

- A última resposta mostra que o brasileiro quer ser identificado como pessoa provida da moral da integridade. Quanta distância entre o discurso e a prática. Protesta-se pela integridade, mas esquece-se, facilmente, do compromisso.

- Até mesmo as empresas estrangeiras, ao menos em tese obrigadas a padrões éticos irrepreensíveis em seus países de origem, aclimatam-se à ruptura ética tropical.

- Vivenciam a velha concepção de que não existe pecado do lado de baixo do Equador. Chegam a incluir a propina como gasto previsível, sem o qual as coisas não andam na cultura tupiniquim. É por isso que, ao lado da dupla moral do brasileiro, pode-se acrescentar a moral empresarial da parcialidade.

- Não poderia ser diferente num país em que a moral pública se encontra em frangalhos. Diante dos descalabros da vida política, as empresas se valem da moral do oportunismo.

- É um discurso seletivo que adota normas mistas de conduta porque não se furta a justificar conveniências oportunistas nas relações com os outros (aqueles que estão destituídos de cacife), embora exija lealdade nas relações pessoais (os aliados). A moral da parcialidade é um discurso permissivo de cunho exclusivista e, portanto, antiético

- É óbvio que não se pode generalizar. Há empresas que mantêm, a custos diversos, a moral da integridade. Outras militam na esfera da moral da parceria. O economicamente correto é conciliar a atividade empresarial com a ética.

- A revolução a ser travada no Brasil é a de reformulação da consciência das lideranças empresariais. Muitas delas já foram contaminadas por esse fervor cívico de resgate da ética em todas as atividades.

- A distância entre a realidade econômica brasileira e a de outros países com o mesmo lapso temporal de infância histórica também reside na seriedade com que alguns valores são encarados lá e cá.

- Uma das linhas a ser perseguida é a do aprimoramento ético.Já se colhem os resultados de boas iniciativas. Dentre elas, mencione-se a Certificação AS 8000 - Social Accountability 8000, uma norma internacional cuja certificação garante a responsabilidade trabalhista das empresas. Foi em 1997 que uma organização não governamental, sediada nos Estados Unidos, denominada Social Accountability International (SAI), criou essa nova certificação; estruturou-se na esteira de outras certificações internacionais bem sucedidas, como a ISO 9000 (Garantia de Qualidade) e a ISO 14000 (Gestão Ambiental).

NALINI, Ética geral e profissional, 2009, Cap. 7, p.265-292.

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