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26.2.17

ÉTICA 004.1 LEITURAS




AULA 004
25 DE FEVEREIRO DE 2017
ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL




SUMÁRIO

FAMÍLIA HOJE
ÉTICA ENTRE MARIDO E MULHER
ÉTICA DOS PAIS
PAIS E A MÍDIA
PAIS E AS DROGAS
ÉTICA DOS FILHOS
ÉTICA, ENVELHECIMENTO E AVÓS
ÉTICA E FAMILIARES
ÉTICA E SUBALTERNOS
ÉTICA E VIZINHOS







- Núcleo fundamental para a vida em sociedade.

- Filho, mãe, pai.

- Responsabilidade total e permanente dos pais com relação aos filhos.

- A família passou por inúmeras transformações e continua a se modificar. Tal sistema relacional primário hierarquicamente organizado continua a programar e a modelar o comportamento de seus filhos conforme os valores sociais da época. Ao conferir-lhes pertinência e sentido de identidade, torna-se aquilo que se pode chamar de matriz de identidade.

- Origem animal-natural ou cultural da família?

- Prevalece apenas o cunho patrimonial?

- Constituinte reconheceu como entidade familiar a união estável.

- Sociedade pluralista torna mais complexo o estudo da família.

- O perfil das relações familiares se distancia dos modelos legais.

- Modelos de famílias na sociedade contemporânea:
a) par andrógino, sob regime de casamento, com filhos biológicos
b) par andrógino, sob regime de casamento, com filhos biológicos e filhos adotivos, ou somente com filhos adotivos, em que sobrelevam os laços de afetividade
c) par andrógino, sem casamento, com filhos biológicos (união estável)
d) par andrógino, sem casamento, com filhos biológicos e adotivos ou apenas adotivos (união estável)
e) pai ou mãe e filhos biológicos (comunidade monoparental)
f) pai ou mãe e filhos biológicos e adotivos ou apenas adotivos (comunidade monoparental)
g) união de parentes e pessoas que convivem em interdependência afetiva, sem pai ou mãe que a chefie, como no caso de grupo de irmãos, após falecimento ou abandono dos pais
h) pessoas sem laços de parentesco que passam a conviver em caráter permanente, com laços de afetividade e de ajuda mútua, sem finalidade sexual ou econômica
i) uniões homossexuais, de caráter afetivo e sexual
j) uniões concubinárias, quando houver impedimento para casar de um ou de ambos os companheiros, com ou sem filhos
1) comunidade afetiva formada com "filhos de criação", segundo generosa e solidária tradição brasileira, sem laços de filiação natural ou adotiva regular.

- Quando se fala hoje de família, tem-se de indagar: qual família?

- Ainda existe espaço para a família tradicional: pai, a trabalhar fora, mãe, com funções domésticas, e um par de filhos.

- Em todos os grupos, há algumas características comuns: afetividade (amor), estabilidade (convívio) e ostensibilidade (reconhecimento da comunidade).

- O egoísmo ou o egocentrismo atuou como fator de desagregação; divórcio disseminou-se como remédio fácil; custo é o aumento da solidão.

- A mulher conquistou o seu espaço, venceu no mercado de trabalho e delegou as tarefas domésticas e de treinamento social da prole a substitutas nem sempre adequadamente preparadas.

- A televisão, o videogame e a internet ocupam o lugar antes reservado ao convívio.

- Essa transformação da família é paulatina e integrada num grande processo de modificação da sociedade.

- No entanto, as pessoas continuam essencialmente as mesmas. Seres carentes de amor e de reconhecimento, ávidos por estabelecer relações duradouras de afetividade desinteressada. Vínculos ínsitos às comunidades familiares.

- O primeiro dever ético em relação à família é reafirmá-la como célula insubstituível.

- A perpetuação da espécie humana não prescinde da maternidade; homem e mulher, por autodeterminação, cometem-se a si mesmos nova identidade: marido e esposa; os apelos à poligamia são muitos.

- Reclama-se do homem contemporâneo destemor para declarar que a família é comunidade de amor.

- Não é verdade que o casamento seja contrato como outro qualquer; toda separação é uma frustração; não se tornem os separados e divorciados apóstolos do divórcio; reconhecimento legal da união estável não dilui a relevância do casamento.

- O valor família encontra-se em alta para os brasileiros; também a religião, mas não o casamento, nem o dinheiro.

- As mulheres na faixa de renda mais alta estão adiando a saída da casa dos pais para a constituição de sua própria família. Exatamente o contrário do que ocorre com as jovens pobres. Elas saem mais cedo de casa e - o que é pior - engravidam ainda na adolescência.

- É na moral sexual que se registram as maiores mudanças; virgindade e sexo antes do casamento.

- Há um forte componente machista na sociedade, a delimitar as fronteiras entre o que é tolerado para as filhas e incentivado para os filhos.

- Os pais, independentemente da classe social, estão hoje mais permissivos.

- A casa é dos pais; os filhos não devem trazer suas intimidades para os pais sem um certo grau de reserva.

- O mais importante é reconhecer que uma nova ordem constitucional contemplou a família brasileira com tratamento privilegiado e o Código Civil de 2002 foi conseqüente com essa opção do constituinte.

- Afeto-embora a expressão não esteja mencionada na Constituição ou no Código Civil, é a chave da nova família.


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- Casamento é partilha de amor e angústias; não é fácil conviver, mas também não é impossível.

- Na convivência resultante da afeição nem caberia falar em normas éticas. O amor a tudo suplanta. Mas às vezes o amor acaba.

- A mulher, para o marido - e este para a mulher - vem a ser o próximo mais próximo.

- Ainda que não haja amor, deve existir amizade e respeito

- Enunciar exemplos de infrações éticas não é difícil, para quem tenha acumulado relativa experiência-pessoal ou laboral-com o triste universo das separações e dos divórcios.

- O desdém para com a perda de atributos físicos é comum. Saber envelhecer é lição de sabedoria.

- Nem se fale da traição ou da infidelidade.

- A idealização da fidelidade permanece fortíssima, inclusive nas relações extraconjugais.

- Não só no casamento, mas também no adultério, a fidelidade é um valor.

- Tipologia de infrações éticas conjugais é infinita; vigilância ética é desejável para que se não perca o respeito.

- Se os mandamentos éticos no casamento pudessem ser sintetizados, eles entrariam no conceito de solidariedade.

- Amar não é apenas a força da atração física. Amor significa aceitação. Os atributos físicos se transformam. A paixão queima e se transforma em cinzas.

- O casamento não é instituição falida; em lugar de prisão, o matrimônio pode ser comunhão que liberta.

- O mundo da solidão, da solidão em comum, que é o pior tipo de situação, o mundo do egoísmo e do desinteresse, depende dos casais para se tornar novamente o ninho acolhedor.

- Será utopia? Por que repudiar as utopias? As utopias ressurgem e têm sido revalorizadas. Utopia é acabar com as guerras. Utopia é salvar a natureza. Utopia é restaurar o amor conjugal. Pois utopia é sonho, e sem sonho não se pode viver.


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- A preocupação contemporânea com o fato da paternidade/maternidade responsável.

- A paternidade pode ser genética - de concepção ou doação de esperma - ou social - pai é aquele que cuida do menor, o adotivo ou o doador do nome. E a maternidade pode ser genética - de concepção ou doação de óvulo-, uterina - de gestação ou doadora de útero - ou social - conforme a mulher cuide da criança, adote a criança ou a ela doe seu nome.

- Qualquer categoria deve nutrir constante preocupação ética em relação ao seu filho.

- Muito mais relevante do que tipificar as paternidades e maternidades é extrair delas o comum significado de seres responsáveis pela formação de novos indivíduos.

- Para uma classe diferenciada, a daqueles privilegiados que puderam estudar, a escolaridade é um trajeto infindável. Depois de passar pela universidade, o amante dos estudos vai se direcionar para a pós-graduação. Não é apenas a especialização, o mestrado, o doutorado, o pós-doutorado, a livre-docência, a cátedra. Sem essa formação seqüencial, não se pode falar em uma educação completa. Aliás, educação é um projeto de vida, tarefa interminável e que atende ao signo da permanência. O verdadeiro estudioso é um estudante crônico. Não deixa nunca de estudar. Prossegue a aprender até a morte, última lição. A vida é um aprendizado para a morte.

- Se assim é para a profissão, para toda espécie de saber, o que ocorre em relação à paternidade/maternidade? Qual a escola que prepara os futuros pais? Onde se obtém diploma de pai e mãe? Como se aprende a ser sensível?

- Estranhável que, somente para exercer a missão de pais, os homens não recebam formação específica.

- É terrível a missão dos pais neste início de milênio: drogas, ausência de diálogo...

- Em regra, o pai é fruto de uma cultura inserta na geração anterior à sua própria. É o produto da educação de seus pais, os avós dos filhos. Sob tais parâmetros se conduzirá ao assumir o exercício da paternidade.

- O prazer sensual e instintivo a qualquer preço, a "curtição", as "baladas", o "ficar", tudo isso está para a juventude em primeiro lugar. Os compromissos, as obrigações, são" caretices". Os direitos são bem conhecidos. Invocados de maneira apropriada se ameaçados de supressão. Os deveres são ignorados. A síndrome da diversão contínua, a irresponsabilidade como regra, parece o comando único. Há exceções, por óbvio. Há jovens assentados, maduros, responsáveis. Lamentavelmente, não constituem a maioria. Prova disso, a perda de 13% anuais de vidas por causas externas - acidentes, homicídios, suicídios e overdoses. Lamente-se que a morte venha a colher os jovens mais promissores.

- O plano seria propiciar a elas uma educação diferenciada e integral, para que o acesso à universidade fosse o resultado natural desse aprendizado. Como o número era superior à capacidade de absorção pela universidade privada, houve descarte da maioria dos superdotados.

- O que é que os pais podem fazer diante desse quadro?

- Algo que pode parecer irrealizável é conscientizar cada pai e cada mãe de que todo e qualquer jovem que poderia ser seu filho merece um mínimo de atenção.

- Já em relação aos filhos biológicos, o primeiro dever ético dos pais em relação à sua cria é o da verdade; verdade é também coerência.

- Não signifique isso que os pais devam ser tiranos guardiões da verdade absoluta. Rigor excessivo também não funciona. Parafuso que se aperta demais espana. Há que se orientar, confiar e conferir responsabilidade.

- É vedado aos pais abdicar da tarefa educativa. A omissão é pecaminosa. Educar o filho é dever ético essencial. Educar para a vida em plenitude - para a vida cívica, profissional, mas também para a vida afetiva, para a vida sexual, para a vida religiosa.

- As requisições da vida moderna tendem a fazer com que os pais outorguem à escola a atribuição de integral educação de seus filhos. Constitui exigência ética não ceder a essa tentação.

- À escola entrega-se alguém que já recebeu do lar as noções básicas essenciais: o respeito ao semelhante, o dever da verdade, a responsabilidade compatível com a faixa etária, a solidariedade e o interesse pelo estudo.

- Existe alguma receita pronta e acabada para esse exercício responsável da paternidade? Infelizmente não. O caminho se faz à medida que se caminha. Todos somos cobaias nesse projeto.

- Mas há pais companheiros, sem serem cúmplices do erro. Interessados na vida dos filhos. Partícipes. Amigos, sem deixar de ser pais.Não há quem não queira figurar no ranking dos pais ideais. Nem todos conseguem. Mas nessa batalha não existe capitulação. Tentar ser bons pais e mães é compromisso eterno.

- Pais e mães devem fazer exame de consciência diário. Sempre é hora de recuperar o tempo perdido.

- A educação ética ideal é a do exemplo. Discursos pouco representam diante de uma ação a eles desconforme. Mais vale um grama de exemplo do que uma tonelada de conselhos.

- Os deveres éticos dos pais em relação a seus filhos perduram durante toda a existência. E para muitos pais é difícil perceber quando os rebentos já não são crianças, mas se tornaram adultos.

- Uma regra de ouro é a coerência e a honestidade; sobretudo, os pais devem estar sempre prontos à compreensão, suscetíveis a ouvir quando necessário, a estender a mão em qualquer hipótese e a confortar incondicionalmente. Respeitar a individualidade vem novamente à tona.

- O coração dos pais tem de ser a única porta permanentemente aberta para os filhos, por errados, renitentes ou revoltados que possam eles parecer. Permanecer ao lado do filho, compreendê-lo e amá-lo é investimento que pode ou não ter retorno.

- O amor é a única regra absoluta.


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- Ver televisão é a terceira atividade a que mais tempo dedicam os adultos, perdendo apenas para o trabalho e o sono.

- Ela impõe comportamentos e padroniza opiniões.

- Compara a televisão ao totem para as tribos primitivas: objeto de veneração e reverência, signo de identificação individual e coletiva, foco das expectativas e temores sociais, ditame último que dá sentido à realidade.

- O lugar de honra na casa chegou a ser reservado para a televisão; impõe-se o silêncio e todos ficam fisicamente juntos, haurindo as lições do grande irmão sem desejar comentário ou interferência alheia.

- Essa caixa mágica é apocalíptica, ou seja, dá sinais indicativos do fim das eras. Ela é ao menos uma caixa perversa. Embora seja para muitas famílias a fonte primária de informações, notícias e entretenimentos, formando suas atitudes e opiniões, seus valores e modelos de comportamento.

- A televisão nos abastece de crença. Não sabemos das coisas experimentalmente, mas cremos nelas; enquanto as idéias se têm, as crenças nos têm.

- Toda informação é discurso, é opinião. A televisão não informa, apenas. Ela cria, forma, gera certeza absoluta. A seleção dos dados a transmitir já denota um critério valorativo. Depois, o tratamento formal dos elementos da comunicação audiovisual faz conferir à imagem um valor semântico. A criação de estereótipos, com simplificação ou deformação da realidade, vai transformando as consciências.

- E o que dizer do espetáculo televisivo da violência?

- Poucos os pais que têm drama de consciência por causa da televisão. A questão já não é tema recorrente. Não interessa tanto, porque já se assumiu a inevitabilidade da televisão. Essa é a época em que se vive.

- Não há sentido algum em se pregar a extinção da televisão. Nem se deve, diante dela, assumir posição de impotência. Os pais podem tentar minimizar os efeitos da televisão, orientando os filhos.

- Os pais devem participar dos conselhos escolares para incentivar a escola a ensinar a ver a televisão. A escola não pode ignorar que a maior parcela do tempo de seus clientes se passa diante da TV.

- Uma coisa é certa. As gerações futuras não serão como as atuais, em face da transformação de suas consciências pelo fenômeno televisivo.

- Essa ética cidadã impele qualquer pessoa a controlar a TV, que apenas sobrevive se realimentada com audiência. Essa a arma eficiente da cidadania: o boicote, a censura doméstica, a utilização de outros instrumentos da mídia para criticar a má programação, para mostrar o desacerto da TV e para cobrar de seus responsáveis o retorno ao caminho reto.

- A relevância da televisão no Brasil é tamanha, que um programa como o Big Brother já se encaminha para a décima edição. O que levaria milhões de brasileiros a permanecerem a espreitar o comportamento de jovens confinados em uma casa, a pretexto de uma competição que culminará na outorga de um milhão de reais?

- O fenômeno é mais sério do que possa parecer. A existência real que a sociedade oferece à maior parte da população - quantos milhões de miseráveis o Brasil possui? -é desprovida de qualquer perspectiva. São pessoas que nunca alcançarão o padrão de consumo que a publicidade intensa apregoa como normal.

- E que se torna autêntica aspiração de cada indivíduo. Por isso é que, na fuga da realidade, há uma fácil identificação com a vida virtual da casa em que os concorrentes permanecem vigiados. Uma gaiola de ouro, como aquela em que as pessoas comuns gostariam de morar. Belas acomodações, piscina, sala de musculação, cozinha moderna.

- Todos os recursos estéticos do estilo em voga. Até mesmo os selecionados para participar do certame refletem a utopia do corpo perfeito. Corpos sarados, sensualidade, modelo fácil de assimilação e de transferência.

- O telespectador passa pela experiência da personagem do filme "A Rosa Púrpura do Cairo". Ingressa virtualmente na casa. Identifica-se com os seus moradores. Elege aquele que melhor corresponda aos seus padrões. E sente-se partícipe ao interagir quando escolhe alguém que deva sair da casa a cada "paredão". Por isso os milhões de telefonemas por noite, muitos deles reiterados pelas mesmas pessoas, na imersão virtual numa vida que não é a sua.

- A televisão continuará a exercer enorme influência sobre a sociedade brasileira, a partir da família.

- A inclusão digital propicia a redução das desigualdades, mas também permite às crianças e adolescentes o ingresso nos chats de conversas chulas, nas trocas de imagens eróticas, nos canais hots e no flagelo da pedofilia. Não é raro que crianças se identifiquem como adultos. Ou que haja inversão no papel sexual, pois os diálogos se fazem na pretensa intimidade e há espaço para a fantasia.

- Para quem prefere o mergulho na realidade, o uso da web cam permite transmissão de imagens ao vivo. Disso se valem as patologias, mas a contaminação pode atingir inocentes. Os incautos que, na busca de entretenimento, iniciam por curiosidade e em seguida se tornam dependentes. Se o mal não fosse sedutor, não haveria qualquer dificuldade na vitória do bem.

- Os expertos no tema também se indagam se o ciberespaço em que todos os digitalmente incluídos estão imersos não representa o caos, a confusão, o caráter diluviano da informação e da comunicação.

- Os ainda mais otimistas acreditam não haver razões para preocupação. A cibercultura não rompe com os valores fundadores da modernidade européia, que é também a nossa. Consideram-na herdeira legítima - ainda que long ínqua - do projeto progressista dos filósofos do século XVIII. Ela valoriza a participação em comunidades de debate e argumentação. Em linha direta com as morais igualitárias, encoraja uma forma de reciprocidade essencial nas relações humanas.

- A preservação da intimidade, o respeito à privacidade, o círculo indevassável da autonomia pessoal impedem que os pais controlem as atividades de seus filhos, quando trancados em suas fortalezas, os seus polivalentes quartos de dormir. Trancar-se no próprio quarto e invocar sua privacidade é comum, ao menos para aquelas famílias já digitalmente incluídas. Quantos pais não mantêm sua consciência em confortável estágio de letargia, na crença de que, dentro de casa, o filho está a salvo das influências nefastas e do perigo onipresente da violência?

- A avalanche de produtos derivados das novas mídias não cessa de crescer. Muitos milhões de brasileiros já acessam a internet regularmente. O admirável e assustador mundo novo já chegou. Nem todos se aperceberam disso.


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- É inacreditável que algo chamado droga, cujo significado é algo que não presta, mas que designa produto alucinógeno causador de dependência, atraia tanto a juventude brasileira, a ponto de fazê-la perecer.

- Inúmeras as famílias que se defrontam com essa verdadeira tragédia.

- A dependência aos entorpecentes é causa de destruição de famílias.

- O consumo de drogas é o acesso à criminalidade.

- Quantas famílias já não experimentaram o gosto amargo de um filho preso, de um filho assassinado, de um filho envolto nas malhas desse flagelo que é o consumo de drogas. O que o pai pode fazer? Ser honesto, franco e verdadeiro.

- O pai não pode fingir desconhecimento ante o vício do filho.

- É essencial o apoio dos pais para que a luta contra o vício seja enfrentada.

- Importante recordar que droga não é apenas a droga ilícita. Droga é o álcool em excesso, o fumo que mata e do qual pouca gente consegue se livrar depois de viciado.

- Os enfermos não são apenas os usuários. Uma sociedade que não consegue despertar sua juventude para destinos menos melancólicos do que cheirar cocaína, "viajar" com ecstasy, tragar marijuana ou fazer um coquetel de tudo isso, está gravemente adoecida.

- Falhou a família, falhou a escola, falhou a sociedade e falhou o Estado, se a droga é mais atraente do que os valores imperecíveis. Por enquanto, a batalha contra ela está perdida. Será que a humanidade perderá também a guerra?


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- Os filhos raramente conhecem os pais.

- Logo após a primeira infância, quando os pais chegam a ser heróis onipotentes, os adolescentes descobrem neles pessoas comuns com defeitos e imperfeições. Os pais tradicionais são ainda pregadores de um código de conduta que pouco tem a ver com a hierarquia de interesses dos filhos. O conflito é natural.

- É natural que os filhos não entendam os pais e vice-versa.

- Por que não se colocar no lugar dos pais e tentar pensar como eles pensam?

- Os filhos devem conceder aos pais um crédito inicial.

- Pais sem tempo para os filhos e filhos sem tempo para os pais

- É difícil incutir, para quem se impregna da volúpia do aproveitar a vida, a consciência de que há valores permanentes, mais gratificantes do que esses com que acenam a propaganda e os meios de comunicação.

- Um dos paradoxos contemporâneos é o de que se perde tempo com a desculpa de não havê-lo a perder. Nessa corrida contra o tempo, os pais permanecem como estepes, aos quais se recorre nas necessidades, sempre prontos a acudir a cria, embora nem sempre possam contar com ela.

- Quando os jovens acordam para essa realidade, jovens já não são. Enquanto filhos, sempre terão deveres éticos para com os pais. O dever de convivência, consistente em dedicar aos pais ao menos uma ínfima parcela do seu tempo. Há filhos que permanecem longa temporada sem ao menos visitar os pais.

- O dever de ouvir, não de maneira indiferente ou passiva, mas com interesse de quem se propõe a argumentar para mostrar a outra face da realidade. Melhor seria mencionar o dever de entendimento, assim compreendido o esforço que resultaria frutífero se as gerações se dispusessem a decodificar as respectivas linguagens. O dever de assistir, quando os pais idosos ou enfermos necessitarem de carinho.

- A sociedade moderna, dirigida para a juventude e para a beleza, está a conferir tratamento cruel à velhice.

- Aqui existe outro dos paradoxos brasileiros. "A sociedade nega que essa realidade (entrega do velho ao asilo) exista. As pessoas só falam que o melhor lugar para o idoso é em sua casa, com a família, mas o que acontece é que, em muitos casos, as famílias não querem, não podem e não sabem cuidar.

- Mocidade é etapa fugaz da existência. Passa em marcha acelerada pela vida. Breve - em pouco mais de um átimo - se atinge a maturidade e a velhice. E esta possui muito a transmitir. A tradição oriental fornece lições muito precisas a respeito do aproveitamento desse acervo de sapiência do idoso.

- A promulgação do Estatuto do Idoso e a perspectiva de que neste século serão crescentes as taxas de longevidade talvez invertam a equação.

- O que não se consegue pela via ética, a economia capenga parece alcançar. Há muitos filhos adultos que já não querem deixar a casa dos pais; o Brasil-miséria também registra o fenômeno dos idosos que, com sua humilde pensão, sustentam várias pessoas.


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- Os avanços da medicina estão a povoar o mundo de idosos. A velhice é hoje uma realidade mais palpável.

- Um fenômeno recente, se bem que ainda não disseminado, é a multiplicação do número de crianças que passa a contar não apenas com avós, mas também com bisavós.

- A longevidade obtida pela ciência assegurará a muitos dos atuais jovens apresença prolongada dos seus avós/bisavós. O que não significa dizer que haverá convivência com os mais velhos.

- Em relação a seus avós, ao neto se reclamam deveres éticos. O primeiro deles é o da atenção.

- Se todos os netos concedessem a seus avós alguns minutos por semana, os idosos não estariam esquecidos e imersos em solidão.

- O direito brasileiro reconhece um direito à convivência familiar.

- A verdade é que os mais novos, se aprendessem a cultivar os idosos, teriam nestes uma fonte inesgotável de sapiência.

- A velhice acarreta aumento na freqüência de erros, "esquecimento de palavras ou atribuição errada de nomes a objetos; o processo não é igual para todos. Mas é irreversível.

- Realidade em todo o mundo é o protagonismo reservado aos idosos como os mantenedores dos mais novos.

- Voltarão os netos a respeitar os seus avós, quando estes forem sua fonte única de subsistência?


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- A família não se circunscreve a pai, mãe e filhos. Inclui avós, tios, primos, sobrinhos e as pessoas unidas à célula básica pelos laços de afinidade.

- Os cônjuges e os companheiros não são parentes, ainda que integrem a família e mantenham vínculo de afinidade com os parentes do par.

- Para uma reflexão ética, os familiares ou os parentes são os semelhantes mais próximos. Os deveres éticos têm início no âmbito desse grupo vinculado por sangue e pelo casamento. Assistir ao parente, apoiá-lo em suas necessidades, solidarizar-se com ele, tudo isso representa obrigação moral de que ninguém pode se escusar. Não é fácil honrar esse propósito.

- Uma situação muito especial no Brasil é a do padrinho e madrinha; A tradição familiar pode considerar o compadrio um vínculo de relevo e intensidade que o aproxima do parentesco.

- No mais, o afeto é que deve presidir as relações familiares.

- Estes tempos são cruéis para com as grandes famílias. Os casamentos trazem outros hábitos, outras culturas e outros interesses. Irmãos muito unidos de repente se separam por causa dos cônjuges. Quando se fala em herança é que se conhece o que tem realmente valor: ou o bem material ou a voz do sangue. Quase sempre aquele é um clamor intenso e esta um tênue sussurro.

- No mais, cada um persegue seus interesses e convive com as afeições selecionadas de acordo com os próprios destinos.


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- Numa sociedade heterogênea como a brasileira, não são poucas as famílias que ainda dispõem de empregados domésticos. Esses profissionais convivem com a família sob o mesmo teto e não integram o respectivo núcleo.

- Embora muitos empregadores sejam patrões providos de senso humanitário, outros há que dispensam aos serviçais um tratamento que tange a indignidade.

- Tais funcionários partilham da intimidade do lar e merecem condição digna de subsistência. É imoral pagar-lhes salário iníquo, assim como reservar-lhes um tratamento correspondente à servidão.

- Em Estados de desenvolvimento homogêneo, o doméstico é um profissional respeitado e bem pago. O mesmo deve ocorrer com o motorista, o jardineiro, ou qualquer outro servidor.

- O mínimo que se lhes pode assegurar é um tratamento de respeito, consentâneo com a dignidade de criatura humana, princípio fundamental da República brasileira.

- Todas as profissões são dignas. Muita vez, a função considerada pouco nobre propicia ao seu exercente uma remuneração muito mais satisfatória do que a longevamente prestigiada.

- Por outra vertente, aquilo que a fraternidade não conseguiu aos poucos a lei vai tornar obrigatório.

- Há de se ensinar em casa que o valor da dignidade humana, contemplado na Constituição da República, impõe um padrão de conduta a todos.

- Qualquer pessoa, por integrar a espécie humana, é titular de idêntica dignidade. Quem o compreende não se comportará de maneira sofrível. A nobreza de um caráter é avaliada pela maneira com que seu detentor se relaciona com os humildes. Nada mais significativo do que a altaneria para com os iguais ou superiores e certa bondade para com os inferiores.Já quem é servil para com os poderosos e inflexível em relação aos subordinados está a demonstrar insegurança própria dos espíritos pigmeus.


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- Na ampliação do círculo familiar, a vizinhança vem a ser aquela faixa contígua a separar a família da sociedade. O vizinho é também um próximo. Alguém não distante.

- Esse fenõmeno está ausente na megalópole.

- A partir da caridade, que tem uma conotação também de humildade, os deveres éticos em relação aos vizinhos devem se exteriorizar em atos de humanidade, beneficência e gratidão.

- A fórmula que os humanos encontraram para melhor viver- os condomínios verticais ou horizontais - estimula um certo gregarismo.

- Em síntese, não é apenas a proximidade física o que aproxima os homens. No ambiente do trabalho, na condução coletiva, no restaurante, no clube, nos cinemas e teatros, nos ambientes públicos, porta-se com ética a pessoa que segue um preceito bastante singelo: não faça aos outros o que você não quer que os outros lhe façam.

NALINI, Ética geral e profissional, 2009, Cap. 4, p.148-194.

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