- Lei da abolição de 1888 = Caso exemplar da contradição brasileira.
- Alegria X Injustiça e violência originárias.
- Perdemo-nos em meio às teias das leis (simbólicas!).
- Significação da coisa.
- Alegria. Liberdade. Fazer tudo o que quiser. Não há mais limitação à fantasia e à imaginação. Crianças. Ingenuidade.
- Recordação. Alegria. Saudade. Passado. Vida. X Tempo. Morte. Tristeza. Desalento. Futuro. Loucura. Desigualdade. Exclusão.
- É bom sempre relembrar!
- Citação de uma frase escrita por Lima Barreto em um papel avulso e em tom de desabafo!
- Tempo. Morte. Tristeza. Desalento. Futuro. Loucura. Desigualdade. Exclusão = Marca de toda uma geração. Marca de toda nossa história!
- Tempo. Morte. Tristeza. Desalento. Futuro. Loucura. Desigualdade. Exclusão = Nosso tempo. Nossa história. Brasil. Brasileira!
- Desde a descoberta (INVASÃO!) até hoje (EM DESENVOLVIMENTO!).
- Características, traços, facetas, imagens cativas que insistem teimosamente em (com)parecer na história brasileira (do Brasil, dos Brasis). Tudo construído discursivamente a partir de uma lógica, linguagem ou dialeto da(S) violência(S).
- Nossa origem (INVASÃO!) está marcada pela violência. Ela está encravada na nossa certidão de nascimento. Violência e injustiça originárias.
- Como uma espécie de lógica ou linguagem construída/reproduzida socialmente.
- Não foi uma lógica da violência explícita, mas dissimulada. Até hoje ela se faz presente/escondida.
- Difícil e tortuosa construção da cidadania, do público, do bem comum, da república, da democracia, da igualdade, da justiça, da dignidade!
- Caso exemplar da Lei Áurea de Abolição da Escravatura
- Último país a abolir a escravidão no Ocidente!
- De um lado, civismo, público, pressão popular e civil...
- De outro, pouca ambição/vontade, pouca inclusão/simbólica, cidadania inconclusa, república falha, subdesenvolvida democracia!
- Desde a origem, uma legislação álibi, cúmplice, cínica e simbólica.
- Ambiguidade paradoxal de nossa história: mestiça (miscigenação e mistura), mas, ao mesmo tempo, uma lógica de violência, preconceito, discriminação e exclusão, injustiça que separa, verticaliza, cria hierarquias (ocultas, silenciosas, escondidas)!
- Multiplicidade X Unidade.
- Ambivalência X Univocidade.
- Tempo híbrido X Tempo cronológico, objetivo, evolutivo, linear.
- Várias formas de memória e testemunhos.
- Grandes proprietários rurais. Imensos latifúndios.
- Autoritarismo e Personalismo X Cidadania. República. Democracia. Estado de Direito(S). Igualdade. Justiça. Dignidade.
"Quem rouba pouco é ladrão [exclusão, subcidadão]. Quem rouba muito é barão [inclusão, supercidadão]"
- Violência, autoritarismo e arbítrio como imagens encravadas na nossa história como nossa certidão de nascimento e de crescimento.
- Violência naturalizada, banalizada, comum, social, cultural, como se fosse um valor identitário e comunitário.
- Herança do descobrimento-invasão-dizimação, escravocrata, latifundiária, autoritária, personalista, patrimonialista, clientelista...
- Tratam-se de experiências de violência, exploração, dominação, opressão e repressão postas e forçadas pelo europeu colonizador; em seguida, repostas pelas elites; o desafio, agora, é fazer sejam depostas, percam sua potência, tornem-se impotentes!
- A linguagem da violência é uma linguagem das cores e se tornou uma linguagem nacional e cultural. Mesmo as batidas da polícia [no sentido denotativo e conotativo!] obedecem à linguagem das cores e da violência como se fosse "normal, natural, banal, social, cultural"!
- Brasil compeão em desigualdade, fruto de um racismo violento, silencioso e perverso. Pobres, Pretos, Presos, Mortos, Analfabetos, Desqualificados...
- Luta pública pela República. Luta democrática pela democracia.
"Quem enriquece, embranquece [torna-se visível para as luzes da inclusão]. Quem empobrece, escurece [torna-se invisível para as trevas da exclusão]"
- Mesmo a inclusão cultural [capoeira, candonblé, samba, culinária, futebol, literatura, música e artes] é fruto de uma mestiçagem e mistura violenta porque forçada.
- Porém, de outro lado, a exclusão social quanto aos direitos mais básicos [lazer, emprego, educação, saúde].
- Mistura separada. Separada mistura.
- 6.1 MISTURA VIOLENTA (IDENTIDADE MONISTA)
- Entrada forçada de experiências.
- Entrada forçada de povos.
- Entrada forçada de culturas.
- Encontros e desencontros.
- Guerra e Paz.
- Céu e Inferno.
- 6.2 MISTURA CULTURAL (DIVERSIDADE PLURALISTA)
- Hibridismo cultural.
- Múltiplas experiências.
- Alma mestiça do brasil(eiro).
- "Democracia" racial
- 6.3 ONDE HERMES BRASILEIRO HABITA
- Hermes mora entre os deuses e os homens.
- Talvez o brasileiro também viva entre, no meio, na fronteira!
- É nossa condição. Nossa identidade (sobre-vivente).
- Rompemos dualismos fixos e absolutos com a rapidez de nossa ginga, drible, malemolência, malandragem e "jeitinho".
- A mestiçagem escapa de dualismos rápidos e óbvios
- 6.4 NO PERIGO A SALVAÇÃO
- Lá dentro das práticas discriminatórias e violentas centenárias e originárias, talvez possamos encontrar novas saídas e utopias!
- No perigo, encontramos a salvação.
- Quando chegarmos ao fundo do poço, perdidos, encontraremos o caminho.
- Quando o incêndio da casa acabar com ela, veremos pela primeira vez a estrutura que a fundamentou!
- Na essência do niilismo, uma alternativa, uma saída!
- Claro que existe o abuso desse "jeitinho" que, ao invés de permanecer no meio das regras do jogo, acaba querendo considerar-se acima ou fora delas!
- Claro que existe o risco de não encontrarmos saídas e nos afundarmos ainda mais em práticas violentas; de não encontrarmos salvação para a violência "normal, natural, banal, social, cultural"; de roproduzirmos o fundamento monista, monoteísta, colonialista, violento e opressor...
- Mania nacional de (sobre)viver esperando o imprevisto, a sorte grande, o tesouro perdido, um milagre, a salvação, o salvador!
- Colonialismo mental. Sentimento de inferioridade. Vício de estrangeirismos. Tudo copiar!
- Desencanto e insatisfação em face de nossa sempre negada, ocultada, mascarada realidade.
- Evasão e suspensão coletiva da realidade em defesa de uma "realidade" imaginada e fantasiosa que, "na realidade" é uma ilusão desproporcional!
- Suspendemos e negamos a realidade ao invés de planejá-la não no imediatismo do presente, mas a médio e longo prazos.
- 7.1 EXEMPLO DO FUTEBOL
- Futebol como metáfora da nação brasileira.
- Esperamos e torcemos até o último segundo para que "algo aconteça" e caia dos céus, a intervenção de um elemento mágico-religioso, imprevisto, milagroso, salvador, mesmo que a dura e negada realidade nos massacre de 7 a 1.
- 7.2 EXEMPLO DOS BRICS
- De um lado, o céu da sétima economia do mundo...
- De outro, o inferno do transporte, saúde, educação (públicas!) e moradia!
- 7.3 TRABALHO DE DESLOCAMENTO ONÍRICO TROPICAL
- De um lado recusamos, evadimos e suspendemos o ser, aquilo que é, a ralidade; de outro, imaginamos, construímos e nos iludimos com o não ser, com aquilo
que não é.
"Entre o que se é e o que se acredita ser, já fomos quase tudo na vida: brancos, negros, mulatos, incultos, europeus, norte-americanos, e Brics" (p.16-17).
- Deslocamento onírico tropical que, num passe de mágica, transforma ser ou não ser em não ser é ser! Brasileiros como sofistas cínicos, hipócritas, míticos e
iludidos. Eis o fundamento místico de uma nação (identidade).
"(...) a penosa construção de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro" (Paulo Emílio Sales Gomes).
- A construção idealizada do país serve de fermento para a identidade nacional e patriótica. Devemos ver a identidade nacional como uma questão sempre aberta, plástica e espontânea. Tão plástica e flexível que até Deus é brasileiro! Não os juízes de direito, mas o Deus único, pessoal e "três em um" judaico-cristão!
- De um lado recusamos, evadimos e suspendemos o ser, aquilo que é, a ralidade; de outro, imaginamos, construímos e nos iludimos com o não ser, com aquilo
que não é.
- 7.4 REPRODUÇÃO DO TRAUMA
- O colonialismo foi fruto de um pensamento nacionalista, patriótico, imperialista, etnocentrista e eurocentrsita que é tão forte e profundo que, nas colônias, mesmo após as (in)dependências nacionais, é reproduzido na forma de um discurso (linguagem) violento, racista, explorador, dominante, opressor e repressivo.
- Familismo. Intimidade. Pessoalidade.
- Público é privado. Rua como se fosse a casa.
- Políticos familiares e salvadores, conhecidos por apelidos ou pelo primeiro nome: Dilma, Jango, Juscelino, Lula, Getúlio.
- Contrário da ditadura, chamados apenas pelo sobrenome: Castello Branco, Costa e Silva, Geisel, Médici e Figueiredo.
- Até os santos são chamados no diminutivo!
- De um lado, os afetos, as emoções, o imediatismo do homem cordial, coração. De outro, a difícil entrada do Brasil na modernidade: cidadania, república,
democracia, igualdade, justiça, dignidade.
"Nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela, ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular" (Frei Vicente do Salvador, 1630)
- Canibalismo. Antropofagismo.
- Manifesto antropofágico, 1928, Oswald de Andrade.
- Reinvenção e tradução de falhas em virtudes.
- Canibalizar e carnavalizar.
- Desafiar costumes e convenções.
- Insubordinação e inconformismo.
- Manter acessa a possibilidade de uma utopia brasileira!
- Manter viva a possibilidade de encontrar novas saídas e utopias!
- Combinação, ao mesmo tempo, de temporalidades e memórias diferentes; mistura (tudo junto, misturado e embolado) de perspectivas de modernidade.
- Brasil = pré-modernidade+modernidade+pós-modernidade
- Arcaico e Moderno.
- Avançado e Retrógrado.
- Urbano e Rural.
- Conflito e Brandura.
- Casa-grande e Senzala.
- Paraíso e Inferno.
- Passado e Futuro.
- Exótico e Civilizado.
- Tradicional e Cosmopolita.
- Alienação colonial porque sempre fomos definidos pelo olhar do outro; além de invadidos, somos definidos!
- Somos o "outro" primitivo, bárbaro, selvagem, canibal do Ocidente Europeu Moderno Branco Cristão.
- A partir daí, um show de estereótipos:
FALTA | EXCESSO |
de lei | de lascívia |
de hierarquia | de sexualidade |
de regras | de ócio e festas |
de alma | de alegria e paz |
- Somos a periferia do Ocidente.
- Somos definidos pelas imagens estereotipadas que vêm do exterior: hospitalidade, exótico, estranho, clima, sem catástrofes naturais.
- Até chegam (estrangeiros) e chegamos (nativos) a pensar que o Brasil é o país do futuro e que pode, a despeito de tudo, encontrar uma saída e uma solução para as contradições e paradoxos da modernidade ocidental.
- Como tatuagem biopolítica, as imagens construídas discursiva e culturalmente (por outros e por nós) passam a funcionar como ideias fixas, suspendendo e sobrepondo a realidade.
- De tanto ouvirmos tais discursos ideológicos (linguísticos que ocultam, mascaram e transformam a realidade), passamos a acreditar. Preferimos ouvir do que ver. A mentira é melhor do que a verdade!
- Construímos (ou somos construídos) discursivamente imagens sonhadas, fantasiosas e imaginativas, nas quais nos espelhamos para criarmos nossa identidade.
- As imagens funcionam como um dialeto, uma linguagem construída e reproduzida culturalmente (um espelho, um testemunho, sonhado, imaginado em busca de cura e de racionalização de traumas e de duras realidades).
- 13.1 CONCLUSÃO 1
"Criar percursos imaginosos de construção de vida pública, este é um remédio tipicamente brasileiro para enfrentar ou, melhor dizendo, para driblar o impasse gerado no interior de uma sociedade que se vale de muitos encontros [miscigenação] e vários desencontros [separações, preconceitos, discriminações e violências] (p.19)."
- 13.2 CONCLUSÃO 2
"Por isso o país se desenvolveu (...) a partir de ambivalências e contrastes. O Brasil é, ao mesmo tempo, uma nação marcada por altos gaps sociais e índices elevados de analfabetismo, mas também por um sistema dos mais modernos e confiáveis de aferição de votos.
É aquele que introduz de maneira veloz, em seu parque industrial, as benesses da modernidade ocidental, e o segundo em acessos ao Facebook, mas que mantém congeladas no tempo áreas inteiras do território nacional, sobretudo na Região Norte, onde se trafega na base das pequenas jangadas a remo"
Que possui uma constituição - a qual impede qualquer forma de discriminação - mas pratica um preconceito silencioso e perverso, duradouro e enraizado no cotidiano.
No país, o tradicional convive com o cosmopolita; o urbano com o rural; o exótico com o civilizado - e o mais arcaico e o mais moderno coincidem, um persistindo no outro, como uma interrogação" (p.19). - 13.3 CONCLUSÃO 3
- Não uma história geral do Brasil ou dos brasileiros, mas sim fazer do Brasil uma história real.
- Treinar a imaginação para sair em visita do real!
"O Brasil arromba toda concepção que a gente faça dele" (Mário de andrade)
- 13.4 CONCLUSÃO 4
"(...) a história que aqui se vai contar descreve as vicissitudes de uma nação que, sendo profundamente misturada, acomodou junto - e ao mesmo tempo - uma hierarquia rígida, condicionada por valores partilhados internamente, como um idioma [nacional, cultural] social [linguagem da violência silenciosa, perversa, duradoura, enraizada, incrustrada, encravada, como tatuagem biopolítica!].
Visto desse ângulo, e conforme provocava Tom Jobim, o país 'não é para principiantes', e precisa mesmo de uma boa tradução [eterno enigma sempre aberto, tal questões filosóficas fundamentais nunca respondidas definitivamente, do BRASIL!]"
- Biografia e historiografia.
- Biografia como estratégia de conexão entre o público e o privado, compondo a vida (de brasileiros) e tornando-a real (fazer do Brasil uma história)!
- Historiador = resgatar, ouvir, testemunhar, narrar, interpretar, contar, nomear, dar sentido às experiências...
- Historiador = enfrentar a esfinge, o enigma, a eterna interrogação chamada Brasil...
- Historiador = questionar o que fomos, o que somos e o que podemos ser!
- Até final da redemocratização: eleição e posse de FHC.
- Será que o final da redemocratização não abarca Lula, Dilma e a "Primavera Brasileira"?
FONTE  | SCHWARCZ, Lilia Moritz. STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p.13-20. |
CONTATO  | Prof. Fabrício Carlos Zanin Email |